Em “Mestres do Universo: A Revolução”, os maiores adversários são os haters
Quando a Mattel e a Netflix escolheram Kevin Smith para criar uma nova série de “He-Man e os Mestres do Universo“, algumas pessoas cogitaram que haveria então um reivenção da franquia.
No entanto a estreia de 2021 se mostrou mais como uma continuação das aventuras originais de He-Man na década de 1980 , destinada a fãs adultos que cresceram assistindo a série animada e que agora estariam dispostos a ver esses personagens mais maduros e enfrentando dilemas que não eram possível no teor infantil tradicional. Mas, o que ocorreu foi que esses fãs adultos se sentiram traídos pela escolha ousada de aparentemente matar seu personagem principal no primeiro episódio. Choro e ranger de dentes na internet, de forma totalmente sem propósito.
Da mesma forma, quando a segunda parte da série restaurou o planeta Eternia à sua ordem natural no final, foi acusada de ter pouca profundidade e consequências, o que levou Smith a expressar publicamente sua mágoa com a resposta do público. Mágoa imeditamente ridicularizada pelos fãs que o acusaram de “destruir sua infância” ou de ser “lacrador”.
Grande surpresa: seu retorno para “Masters of the Universe: Revolution”. A continuação continua com o mesmo tom da série anterior, embora pareça ter uma preocupação real em retificar algumas das reclamações que os fãs tiveram sobre o passado recente.
Sou fã, eu quero service?
Há aqui ainda mais acenos a toda a história da franquia. Seja dos quadrinhos onde a história do irmão do Rei Randor é contada, até a introdução de um pequeno troll vindo diretamente da tentativa de inserção ao cinema protagonizado por Dolph Lundgren. No fim, a obra acaba muito mais dando oferendas aos fãs raivosos. Temos mais uma história vibrante de He-Man contra o Esqueleto do que sua veia inventiva anterior propunha, com a chegada do núcleo da Horda no fim da últma série.
E, se querem saber, isso absolutamente basta. Não falamos aqui de uma pomposa obra shakespereana, mas sim de uma série criada como uma simplificação de Conan para vender bonequinhos. Quando essa série se presta a fazer uma boa homenagem já está ótimo para mim.
Na trama, He-Man e seus guerreiros iniciam a batalha entre tecnologia e magia ao enfrentar Esqueleto e outros inimigos pelo Castelo de Grayskull, dando início a mais um capítulo da épica guerra de Mestres do Universo: Salvando Eternia. Após Esqueleto atacar o coração de Eternia e se encontrar mais forte do que antes, o Príncipe Adam precisa lidar com a responsabilidade de ser He-Man, enfrentando a escolha entre manter sua vida tradicional no reino ou aceitar o cetro e a espada. Contudo, a volta de Hordak e uma nova ameaça sobre Eternia não deixam brechas para o jovem guerreiro descansar. Com a ajuda de novos aliados, ele é o único capaz de salvar todo o reino.
Vá de coração aberto
Na verdade o que esta série deseja, às vezes até implora (como com a adição de cenas gráficas desesperadas) é que crianças em corpos de adulto voltem a sentar no chão da sala, comendo biscoitos e veja seus bonequinhos ganharem vida. Para isso, é preciso boa vontade em conciliar quem se é hoje com a nostalgia do passado.
Ao fazer isso, seja para aceitar que a dublagem feita maravilhosamente por Orlando Drummond agora está nas mãos de Guilherme Briggs ou para aceitar que Teela não é mais uma donzela a ser salva. Os tempos mudam, e não se pode vender os mesmos brinquedos para sempre. Ademais, mesmo aos mais críticos, não há nada no He-man da Netflix que seja verdadeiramente desrespeitoso – não falamos aqui daquela versão forçada de Thundercats. Basta voltar a ser criança, ainda que aos 40 e 50. A vida pode ser mais leve, e creio que esse é o maior significado de “He-man”.