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“Fallout” é uma explosão de carisma e acerta o alvo

Em uma primeira olhada, “Fallout” exala fidelidade ao seu material base. Isso não é de se espantar, está à olhos vistos em  qualquer material promocional da série. É nítido que toda a equipe responsável pelos designs, figurinos e pelos efeitos fez um ótimo trabalho nesse sentido. No entanto, não é nem de longe esse o principal trunfo da produção. O que realmente faz de “Fallout” interessante é seu carisma.

Antes da estreia, notícias deram conta que os criadores da série “Fallout” reconheciam a pressão que estavam enfrentando após o estrondoso sucesso de “The Last of Us” da HBO. Tudo isso pode explicar por que entre comentaristas e fãs, criou-se agora um clima de competição entre os aficionados. Pelas redes sociais, muitos já cravam que “Fallout é melhor que TLOU”. Bem, ao menos podemos dizer que ela foi bem sucedida em fazer algo um pouco mais difícil. Ambas as coisas, o carisma e a adaptação, se misturam.

Um mundo pós apocalíptico, mas vivo

A forma como o imaginário cultural é construído possui idas e vindas, com referências que vão se misturando e se sobrepondo. Após “The Walking Dead”, uma forma muito central e característica de representar o fim do mundo se consagrou. Um mundo desolado, em que as poucas comunidades sobreviventes estão tentando manter o mal fora de seus muros.

Não é o que temos aqui, em “Fallout”. Na trama, Ella Purnell (Yellowjackets) aparece como Lucy MacLean, uma jovem corajosa e ingênua que parte em missão no mundo exterior, enquanto Walton Goggins (Sons of Anarchy) entra como “The Ghoul”, um anti-herói carismático que irá causar problemas a Lucy. Já Aaron Moten (Emancipation) é Maximus, um valente soldado que deixa sua base militar para uma busca implacável. Os personagens estão divididos entre os moradores privilegiados e os que vivem no mundo exterior irradiado e hostil, conhecidos como Wastelanders.

É, portanto, um mundo que acabou sem acabar, e em que as pessoas que sobreviveram estão integradas e vão lutar pelo mundo como ele é. No papel da protagonista, não uma personagem badass com um passado a ser resolvido, mas sim alguém completamente despreparada para lidar com o mundo. Tudo isso entra o campo da sátira de um gênero consolidado. Não que não se esperasse isso, já que estes elementos também estão nos jogos.

Carisma e uma produção meticulosa

Pegue o design tosco da Power armor, ou a interpretação canastríssima de Walton Goggins. Tudo isso é feito para que exista engajamento com a produção. Tudo funciona, como se fosse um relógio bem preciso. O resultado é uma produção espirituosa e que cativa e diverte totalmente em seus próprios termos.

Os co-criadores Geneva Robertson-Dworet e Graham Wagner conseguem, talvez ate melhor que alguns dos jogos, combinar tropos tradicionais do apocalipse pós-nuclear com abordagens irônicas e brincar com motivos dos anos 50, convenções de filmes B e sangue e violência de nível de qualquer bom terror gore da galeria de sucessos da indústria. E nada aparece fora do lugar. Além disso, temos ainda os easter eggs e a crescente tensão do mistério que se desenvolve no Vault 32, e como resultado uma das mais interessantes produções do ano até aqui.Em resumo, para  “Fallout”, só se pode dizer que é um acerto.