Indicados ao Oscar de melhor filme 2023 Tár
Atualmente vivemos em uma sociedade de grandes contrastes na qual admiramos personalidades com uma coleção de carros incrível, com corpos definidos ou com cabelos impecáveis, ainda mais quando esse tipo realidade destoa da vida que levamos. Mas o curioso nessa dinâmica social é quando, eventualmente, nos deparamos com atitudes ou opiniões deploráveis dessas mesmas pessoas que expõem suas vidas como vitrines nas redes sociais e a partir desse contraste nos perguntamos: É possível admirarmos um artista que tenha uma postura pessoal questionável? É possível separar a obra do artista?
Tendo essa premissa como base o filme Tár, do cineasta Todd Field, chega à corrida do Óscar 2023 com 6 indicações no total (filme, direção, atriz, roteiro, fotografia e edição), sendo considerado um azarão na categoria principal mas o grande favorito na disputa pelo título de melhor atriz com a excelente performance de Cate Blanchett no filme.

O longa acompanha a trajetória da renomada maestrina Lydia Tár (Cate Blanchett) que encontra-se no auge de sua carreira artística como a primeira diretora musical feminina da Filarmônica de Berlim após ter conseguido não apenas sobreviver como também prosperar em um ambiente amplamente dominado por homens.
As conquistas de Tár são detalhadamente enumeradas nos primeiros minutos da projeção como forma de criar no público um sentimento de admiração pela maestrina, trabalho bastante facilitado pela desenvoltura de Cate ao emprestar todo seu carisma à personagem.

O ritmo lento do filme, focado na rotina diária da protagonista que divide-se entre ensaios, seu relacionamento conjugal e boas doses de atividade física, aos poucos vai revelando que a maestrina genial encobre um lado obscuro que começa a ser mostrado durante uma discussão com um de seus alunos que não curte Bach, um dos maiores nomes da música clássica, por considerá-lo misógino, algo que Tár considera descabido uma vez que a obra de um gênio, independente de sua conduta pessoal, não pode ser desconsiderados.
Quando o passado da maestrina vem à tona percebe-se que a enfática defesa de Bach era, na verdade, uma autodefesa, uma maneira de justificar suas escolhas questionáveis no âmbito pessoal, que sempre foram ocultadas pela sua genialidade musical.

A atuação de Cate Blanchett é o grande trunfo do filme que trata de um assunto relevante e muito atual, mas com um roteiro que parece ter receio de fazer com que a protagonista efetivamente responda por suas ações ou pague o preço devido pelas suas escolhas, deixando tudo no âmbito da subjetividade, sem ir direto ao ponto.
Um filme com grande potencial mas que entrega muito menos do que poderia. Uma história atual mas que não se desenvolve ao ponto de tornar-se relevante. Um longa que quer nos fazer refletir sobre a possibilidade de separação entre obra e artista mas que no fim nos traz outro tipo de questionamento: Quais critérios são levados em consideração para que um filme seja indicado à premiação mais importante da indústria do cinema?