Indicados ao Oscar de melhor filme – 2023 The Fabelmans
Há alguns anos cineastas consagrados de Hollywood decidiram retratar sua infância em cinebiografias que tornaram-se filmes premiados, a exemplo dos filmes Roma (2018) do diretor Alfonso Cuarón e Belfast (2021) que mostra um pouco da infância do diretor Kenneth Bragnagh na capital da Irlanda do Norte.
Surfando nessa mesma onda o cineasta Steven Spielberg brinda o público com o filme The Fabelmans, uma história leve na qual são retratadas circunstâncias marcantes vivenciadas pelo diretor em sua juventude e que foram responsáveis por criar nele sua grande paixão pela sétima arte. O longa chega à corrida do Óscar indicado a 7 categorias, dentre as quais a de melhor filme, direção, roteiro original e atriz coadjuvante com a ótima atuação de Michelle Williams.
O longa tem seu início focado na infância do diretor, e mostra o fascínio do pequeno Sammy Fabelman (Mateo Zoryan), um dos muitos personagens que tiveram o nome alterado para o filme, após ter ido ao cinema assistir ao filme “O maior espetáculo da terra” de Cecil B. Demille. Após seu retorno para casa o pequeno Fabelman desperta sua paixão pela magia da sétima arte e a partir daí utiliza a sua imaginação para produzir pequenos filmes caseiros com uma antiga câmera de seu pai, interpretado por Paul Dano.
Ao chegar à adolescência, Sammy, agora interpretado pelo ótimo Gabriel LaBelle, mantém intacto seu amor pelo universo cinematográfico e o público acompanha a evolução das produções do jovem Fabelman que passam de vídeos caseiros para produções amadoras de guerra com direito a efeitos especiais (entenda-se balões com tinta vermelha simulando sangue) e muitos figurantes, dentre os colegas de escola.
Spielberg foi o criador de filmes icônicos Tubarão (1975), E.T.: O Extraterrestre (1982), A lista de Schindler (1993) e O Resgate do Soldado Ryan (1998) e até mesmo por isso é um verdadeiro deleite acompanhar os primeiros passos desse verdadeiro gênio na arte que o consagrou como um dos maiores cineastas de todos os tempos, e muito disso é apresentado em Fabelmans.
Para além do sentimento de amor pela sétima arte o filme mostra também as dificuldades no âmbito familiar enfrentadas pelo cineasta ao longo de sua juventude como a falta de apoio do pai que via a produção de filmes do filho como um hobby que não lhe garantiria nenhum futuro (que ironia!) além da relação entre sua mãe Mitzi, belissimamente interpretada por Michelle Williams, e Bennie (Seth Rogen), o melhor amigo do pai de Sammy, cujo contato próximo até demais provocaria uma grande crise na família Fabelman.
O diretor de origem judaica também não deixou de retratar no filme a dolorosa experiência com o antissemitismo vivenciada em sua juventude, numa época em que o simples fato de ser judeu era motivo para bullying e todo tipo deplorável de perseguição. Nesse ponto o próprio diretor revelou em uma entrevista recente que sua família, a única judia, era discriminada no bairro em que viviam e que toda a experiência traumática desse período serviu para direcioná-lo ao universo cinematográfico que sempre era visto por ele como uma zona de conforto, um lugar seguro.
O filme autobiográfico de Spielberg entretém mas não chega a ser uma obra-prima, considerando-se o vasto arsenal do diretor, mas é uma história sincera, com personagens reais, e que nos apresenta um pouco do ser humano por trás de produções cinematográficas que ocupam um lugar tão especial no imaginário de gerações de cinéfilos. Um filme que fala sobre o amor à arte de contar histórias, de transformar sonhos em imagens e que mostra a habilidade de um diretor veterano que ainda consegue emocionar o público, seja com filmes sobre dinossauros, épicos de guerra ou contando a própria história.