Meu vizinho Adolf – Uma bela rosa em meio à dor do Holocausto.
Pessoalmente acho incrível que o Holocausto, um tema exaustivamente explorado na sétima arte com clássicos como “A lista de Shindler (1993), “A vida é bela” (1999) ou “O menino do pijama listrado” (2008), ainda hoje consiga render histórias tão boas, surpreendentes e que cativam o público. A mais recente obra cinematográfica incorporada a essa seleta lista de filmes baseados no genocídio que vitimou milhões de Judeus durante a Segunda grande guerra, é o longa “Meu vizinho Adolf”, uma comédia dramática que aterrizará em nossas salas de cinema a partir do dia 20 de abril, e que o NerdTatuado assistiu com exclusividade, como parte do festival Filmelier de Cinema, organizado pelo Sofá Digital.
O diretor Leon Prudovsky conduz o filme de maneira a deixar evidente a drástica mudança de realidade na rotina da família Polsky, cujo lar é retratado no início do longa como um ambiente agitado, colorido e cheio de vida no qual o protagonista e seus familiares conviviam e após o salto temporal de trinta anos o choque de realidade trazido pela vida solitária e amargurada do único sobrevivente da família aos campos de concentração nazistas e que busca dar sentido à sua vida cultivando lindas rosas negras, outrora passatempo de sua falecida esposa e que agora servem para conectá-lo ao passado brutalmente arrancado de si.
O filme conta a inusitada história do Sr. Polsky (David Hayman), um rabugento e mal-humorado sobrevivente do Holocausto que se convence de que seu novo vizinho, o não menos simpático e antissocial Sr. Herzog (Udo Kier), é o próprio Adolf Hitler. Como ninguém leva a sério as suas suspeitas o Sr. Polsky dá início a uma investigação independente tentando reunir evidências que comprovem a suposta verdade sobre a identidade de seu vizinho.
Como estratégia para aproximar-se do suposto responsável pela morte de seus familiares, Polsky aproxima-se de seu vizinho lançando mão de suas notáveis habilidades no xadrez e a partir daí consegue o acesso necessário para invadir o território inimigo e então conseguir coletar evidências que comprovassem que sua tese e que sanidade ainda estava preservada.
O grande barato do filme é a sensibilidade em conseguir descortinar as reais motivações para o comportamento dos vizinhos, ambos profundamente marcados por grandes perdas ao longo de suas vidas e que mesmo situados em extremos distintos carregam a dor causada pelas mazelas de uma guerra que vitimou não apenas os que perderam suas vidas, mas também aqueles que ficaram e têm dificuldades em encontrar uma razão para viver.
A história dos vizinhos emociona não apenas pela força do roteiro mas principalmente pela interação magnética entre os protagonistas, mérito das incríveis interpretações dos veteranos Hayman e Kier, que mesmo com todas as razões para permanecerem afastados aos poucos veem sua relação evoluir e superar barreiras outrora intransponíveis.
Meu vizinho Adolf brinda o público com uma comovente história sobre luto e solidão, mas também sobre empatia, recomeço e esperança, tendo como pano de fundo as mazelas causadas pelo holocausto, em mais uma obra magnífica sobre um tema tão denso e doloroso que mesmo já tendo sido largamente explorado não esgota sua capacidade de comover.