Projeto extração – Quando nem o carisma do elenco salva o filme
Há algum tempo a indústria cinematográfica mundial utiliza uma tática interessante para atrair a atenção do grande público para filmes medíocres, que em condições normais seriam solenemente ignorados: contratar atores de peso para enfeitar o pavão e assim desviar a atenção da plateia quanto à péssima qualidade da produção. Embora seja uma prática de caráter extremamente questionável, continua sendo largamente utilizada também na era dos streamings, como pode ser comprovado pelo filme “Projeto Extração” da Netflix estrelado pelos astros Jackie Chan e John Cena.
O longa acompanha a trajetória do capitão Luo Feng (Chan), que foi incumbido da missão de resgatar um grupo de funcionários isolados em uma refinaria de petróleo chinesa, tentando levá-los em segurança à zona verde, enquanto seu comboio é implacavelmente perseguido por um grupo de mercenários americanos, do qual o grandalhão Chris (Cena) faz parte, ao menos até descobrir as reais intenções do líder da tropa mercenária, Owen Paddock (Johan Philip Asbaek).
Embora o início do filme soe promissor, com direito a perseguição de veículos em meio a uma densa tempestade de areia, numa tentativa de reprodução da épica corrida mostrada em Mad Max: Estrada da Fúria, não demora muito para que o expectador perceba que as quase duas horas de duração do longa serão um grande teste para a sua paciência.
Embora Jackie Chan e John Cena sejam atores extremamente carismáticos o cineasta Scott Waugh demonstra incríveis falta de habilidade e bom senso ao abraçar os clichês mais manjados dos filmes de ação, enquanto deixa de explorar os pontos fortes de cada ator à sua disposição.
Saído diretamente dos ringues de luta para as telonas, John Cena tem a exata noção de quão limitado é como ator, mas sempre procura compensar sua falta de habilidade com um imenso carisma e boas mostras de força bruta, mas com um personagem tão raso, e diálogos tão pouco inspirados, nem mesma a presença de cena do grandalhão boa praça são suficientes para salvar o filme.
Se o personagem do Cena não é bem aproveitado na trama, Jackie Chan não tem melhor sorte com Luo Feng, já que as habilidades marciais do ator, que sempre foram seu grande trunfo nos filmes em que atua, são completamente ofuscados em uma batalha com tanta espuma o bolhas de sabão que impedem que os movimentos ágeis de Chan sejam apreciados pelo público.
Com um roteiro fraco e pouquíssimo inspirado, diálogos mais infantilizados do que cômicos além de atores carismáticos extremamente mal aproveitados o longa de ação da Netflix é um filme que procura esconder suas inúmeras falhas atrás de rostos conhecidos e que possuem grande apelo ao público. Uma tática que sempre funcionou para levar multidões aos cinemas, mas que na dinâmica era dos streamings dificilmente impedirá o público de usar o controle remoto para mudar a programação da TV antes mesmo da metade do filme.