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Resenha | Habibi, de Craig Thompson

Se há um quadrinho que coloca a prova um resenhista, é “Habibi”. Isso, por que se trata de um péssimo bom quadrinho. Ao longo do texto vou me explicar.

Depois de produzir um clássico moderno, vencedor de dois Eisner, Craig Thompson, partiu para um tema e uma história de proporções gigantescas. Retalhos era uma sensível e reflexiva autobiografia, onde o autor narrou da sua infância até o final da adolescência lidando com problemas tanto universais da idade quando específicos para sua condição social e de sua família conservadora.

Em Habibi, poderíamos encontrar um outro grande clássico dos quadrinhos, ao lado de “Maus” de Art Spiegelman , “Palestina” de Joe Sacco e “Persépolis “de Marjane Satrapi . Em vez disso, é apenas mais uma nota de rodapé na longa e triste história das representações ocidentais do mundo não-ocidental.

Em entrevistas na época do lançamento, Thompson disse que Habibi  foi escrito como uma reação contra o sentimento anti-islâmico que sentiu nos EUA após os ataques de 11 de setembro. Nas entrevistas ele se encantava ao dizer que, estudando a religião por sua conta, descobriu não apenas um conjunto de leis, mas uma cosmovisão, uma história rica e um senso artístico que ele sentia que estava sendo ignorada em meio à histeria antiterrorista. 

Portanto, é uma pena que “Habibi” em muito reforce toda uma gama de estereótipos anti-árabes e anti-muçulmanos, muitos dos quais relacionados a esta mesma histeria. O bem intencionado não foi muito longe.

Por outro lado, o quadrinho é lindo. Thompson é um daqueles artistas que podem desenhar o que quiser, e seus temas aqui – sejam formas humanas, caligrafia árabe ou padrões geométricos abstratos – são uma obra prima. Uma constante nas resenhas sobre ele são as comparações com Will Eisner. E não são exageradas. Na medida em o meterial acerta, nos momentos intimistas, a arte carrega a própria trama e não há como negar as habilidades de Thompson como desenhista. 

Outro ponto que encanta é a sensação de deslumbramento que o mundo árabe provoca, mas aqui mora um grande perigo. Deslumbramento pelo deslumbramento, as obras orientalistas já tinham e nenhuma nos oferece um legado digno. O mesmo aqui.

Habibi, 2012
Brochura
Craig Thompson
672 páginas
Quadrinhos na Cia