Yellowstone: O fim de uma saga – Review completo
Texto por redator convidado
Por Edvaldo Ferreira
Talvez um dos grandes fenômenos da televisão americana, Yellowstone teve uma recepção tímida no Brasil, considerando as proporções da narrativa que se propunha a contar. Iniciada em 2018, a série criada por Taylor Sheridan e protagonizada por ninguém menos que Kevin Costner deu início a uma onda de produções inspiradas no estilo de vida norte-americano, focadas nas regiões onde os cowboys um dia reinaram soberanos.
Sheridan, que já havia dirigido o empolgante western Terra Selvagem (Wind River), estrelado por Jeremy Renner, encontrou sua grande habilidade em conduzir narrativas simples, mas eficazes — o que gosto de chamar de “arroz com feijão feito no fogão a lenha”: histórias básicas, porém deliciosas, que você não se cansa de consumir.
Yellowstone se tornou um marco para a TV americana não apenas por resgatar o western moderno com bons roteiros e personagens bem construídos, mas também por recriar o desejo de consumo dos grandes épicos televisivos de forma semanal, no ritmo do conta-gotas. A série fazia o público degustar cada episódio ou final de temporada, sempre ansioso pela próxima — ainda que a espera fosse longa, como no caso da última metade da quinta temporada, que levou dois anos para ser finalizada e marcou o encerramento da saga.
A era de ouro valeu a pena?
Com o desfecho de Yellowstone, o que se pode afirmar é que, sim, foi uma série que valeu a pena acompanhar. Ao longo de sua trajetória, permitiu que o público amasse e odiasse seus personagens, seja por suas complexidades narrativas ou pelas atuações memoráveis. A trama, que à primeira vista parecia uma sucessão de poder nos moldes de Succession, acabou abordando, quase que acidentalmente, questões caras à própria cultura americana, como a disputa por terras originalmente pertencentes aos povos indígenas.
Os personagens não são meros estereótipos, mas conspiram e agem conforme as situações da trama exigem, sempre em prol de seus objetivos. Yellowstone talvez seja o mais próximo de uma novela em grande escala, com tramas familiares que remetem às novelas que acompanhávamos na infância ou adolescência. Isso torna esse “arroz com feijão no fogão a lenha” ainda mais saboroso.
A série entrega um épico na medida certa, sem medo de expor os lados obscuros de seus personagens e culminando em um dos finais mais corajosos da TV recente — ainda mais considerando os desafios enfrentados na produção, especialmente os conflitos internos no elenco e nos bastidores.
De maneira poética, Yellowstone encerrou sua jornada em 15 de dezembro de 2024, com o episódio “A Vida é uma Promessa”.
O que vem depois de tantos cowboys na sua tela?
Taylor Sheridan esbarrou em um sucesso tão grande que conquistou o que todo showrunner deseja: liberdade criativa e um orçamento generoso.
Após o lançamento de Yellowstone, vieram dois spin-offs ambientados antes dos acontecimentos da série original: 1883 e 1923. Este último chamou a atenção pelo elenco de peso, contando com ninguém menos que Harrison Ford e Helen Mirren no papel dos antepassados da família Dutton.
Com essa overdose de westerns, o chamado “Sheridanverso” foi se expandindo para outras produções igualmente competentes, mas com temáticas distintas. Mayor of Kingstown traz Jeremy Renner (nosso eterno Arqueiro Verde) no papel de um homem cuja profissão é tão difícil de explicar quanto de exercer: ele gerencia crises entre gangues em uma cidade marcada pelo crime. Já Tulsa King traz Sylvester Stallone interpretando um mafioso da terceira idade tentando retomar sua vida à margem da lei após 25 anos na prisão. Se isso não for motivo suficiente para você assistir, sinceramente, não sei o que mais poderia convencê-lo.
Assim, Sheridan se consolida como o verdadeiro sucessor espiritual de Clint Eastwood, entregando histórias envolventes, bem construídas e que fazem jus ao legado do western.
No fim das contas, Yellowstone encerra uma grande saga da televisão que, sem dúvida, merece ser revisitada.