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Crítica – Matrix: Resurrections (2021)

Quando Matrix foi lançado em 1999, o cinema de blockbuster já era uma realidade e os efeitos visuais de ponta já estavam entre nós com uma força imensa há cerca de dez anos. Então, por quê o filme é tratado como uma revolução nessas duas áreas? Uma resposta possível é a ilusão, tema caro à franquia e que finalmente é retomado em “Matrix: Resurrections”.

Matrix

É raro nos depararmos com blockbusters que sejam capazes trazer algo verdadeiramente novo ao mercado hollywoodiano. Digo as verdadeiras inovações, e não os pastiches delas que vemos ano a ano. O primeiro Matrix foi capaz disso, com um roteiro e direção que faziam as vezes de um ilusionista, desviando nossa atenção das coisas banais e enchendo-as de pirotecnia, sensualidade e vigor. Com isso, influenciou uma década do cinema mainstream até que a própria se tornou um cópia barata de si mesma, muito cedo, em 2003.

Mas o resto do cinema não se deu conta e seguiu emulando Matrix à exaustão. Felizmente, essa mesma franquia é capaz, agora, de devolver o frescor. Mais madura e mais eficiente do que nunca, talvez leve alguns anos até ser reconhecida como tal.

Escrito e dirigido por Lana Wachowski, o novo filme nos leva de volta a um mundo de duas realidades – a vida cotidiana e a Matrix por trás dela – onde Thomas Anderson (Keanu Reeves) terá que escolher seguir o coelho branco mais uma vez. A escolha, embora seja uma ilusão, ainda é a única maneira de entrar ou sair da realidade simulada, que é mais forte, mais segura e mais perigosa do que nunca.

A metade inicial do novo filme se propõe a fazer o que muitos entederão como meta-linguagem, mas estarão errados. O que “Matrix: Resurrections” se propôs a fazer é algo que podemos chamar de narrativa tensionada. Todo o primeiro ato é uma descrição e uma discussão de como o filme seguirá adiante. É Lana se questionando – e não se referenciando – sobre qual caminho deve seguir. O filme convida o expectador a fazer essa escolha, mesmo que a escolha já esteja feita – o que também está tensionado, na primeira cena.

É uma experiência cinematográfica sutil e poderosa, que encontramos fora do cinema narrativo padrão e que, talvez pela primeira vez, agora está em distribuição ampla em um filme de grande orçamento. E isso tudo com grandes atuações de Carrie-Anne Moss, que está maravilhosa em todas as suas cenas, e as adições de Jessica Henwick, Yahya Abdul-Mateen II e Neil Patrick Harris que também dão show.

Depois disso, no resto de suas mais de duas horas e meia, o filme te pede para sentar e curtir a aventura, bem ao gosto de quem está acostumado aos enlatados de Hollywood. E se você pescar essa ironia, vai sair com um grande sorriso no rosto… e nem mesmo o final apressado e sem impacto vai arrancar o sorriso daí.

Veja o Trailer

Matrix Resurrections
2021

Direção: Lana Wachowski

Elenco:  Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss, Jessica Henwick, Yahya Abdul-Mateen II e Neil Patrick Harris