Crítica | Viúva Negra, 2021
Já se vão quase dez anos desde que os fãs ouviram pela primeira vez sobre a possibilidade de um filme solo da primeira heroína no universo Marvel a dar as caras no MCU. Felizmente, podemos dizer que apesar da demora e de passos conturbados no caminho, “Viúva Negra” finalmente faz justiça a uma das melhores personagens dessa franquia.
Na trama descobrimos que ao nascer, Natasha Romanov (Scarlet Johansson) é entregue à KGB, que a prepara para se tornar sua assassina perfeita. Porém, o seu próprio governo tenta matá-la em meio a uma trama de espionagem que acontece após os eventos de “Guerra Civil”.
O filme nos fornece um pouco da origem da personagem, quando ela fazia parte de um grupo de espiões soviéticos disfarçados de uma família comum no EUA. O tema da família sempre foi importante para Natasha – seja em bons momentos em que seu tom fraternal se mostrava ao lado do Gavião Arqueiro e na forma maternal com a qual ela liderava os Vingadores pós estalo do Thanos, ou nos momentos ruins como o diálogo bizarro sobre sua impossibilidade de engravidar em “Era de Ultron”. Aqui, o tema ganha camadas, com uma cena tocante de ligação e desligamento forçado com a família.
Os grandes méritos do filme se sustentam em três pilares: Aposta em um elenco talentoso e carismático, entrega sequências bem coreografadas e dignas das escolas modernas de ação, e por fim na direção incrível de Cate Shortland. Essa última, ainda, talvez dando os primeiros passos reais de autoralidade na Marvel Studios e apontando uma nova boa fase para filmes que virão – como Os Eternos.
Em seus três filmes lançados, Shortland demonstrou uma veia autoral muito forte e um domínio poderoso da narrativa cinematográfica. Ao que consta, a diretora australiana foi persuadida por Scarlet para comandar esse projeto, e Kevin Feige convencido de que seria a melhor escolha. E o trabalho rende bem. O passeio da câmera, normalmente protocolar em outros filmes do estúdio aqui revela uma riqueza muito grande. Planos que se movimenta, fogem do objeto e que são capazes de construir subjetividade aparecem durante todo o filme.
Claro que ainda é um filme da Marvel, e como tal tem suas falhas aqui e ali. O tom grandioso dos efeitos visuais acaba mais prejudicando o tom do que contribuindo para a ação em alguns momentos e por se tratar de um prequel, onde já sabemos o que virá a seguir o final soa superficial narrativamente, embora carregue um grande peso emocional em razão da despedida da personagem.
E há o vilão… ah, o vilão. O MCU continua com problemas em apresentar as motivações de seus antagonistas, embora tenha refinado a fórmula para tornar essa deficiência cada vez mais passável. Aqui, no entanto, se liga a certos problemas já presentes em toda a história do estúdio, numa direção que eu não posso dizer sem oferecer um grande spoiler. Mas vocês verão.
Mesmo assim, a emoção de voltar a esse universo tão amado, nas mãos de uma diretora de talento e com grandes impactos no futuro – veja a cena pós-créditos – me faz relevar completamente todos os pequenos defeitos do filme.
Viúva Negra (Black Widow)
Ano: 2021
Direção: Cate Shortland
Elenco: Scarlet Johansson, FLorence Pugh,
Rachel Weisz, David Harbour, O. T. Fagbenle