Alerta de Spoiler

Alerta de Spoilers – Peacemaker (01/02/03)

Já é consenso dizer que a Dc Comics patina no cinema. Se algumas de suas produções são sucessos individualmente, a tentativa bem clara de repetir o sucesso comercial da Casa das Idéias com um universo compartilhado não dá mais do que alguns passos antes de voltar à estaca zero.

Nesse sentido, “Peacemaker” surge como uma rara empreteitada. Produzido para a HBO Max uma sequência direta de “Esquadrão Suícida” (Veja a crítica), de 2021, ampliando a mitologia e oferecendo uma nova visão do personagem. Uma visão deturpada, como se espera de James Gunn, que adora fazer isso com vários heróis quase desconhecidos da editora.

Peacemaker

Com três episódios liberados na grade do Streaming, “Peacemaker” chega chutando a porta. Sua sequência inicial já demonstra que a série vai se focar com muito peso na comédia de sátira, colocando dedos nas feridas do patriotismo americano e da ascenção de filosofias neo-fascistas que despontaram nos últimos anos, mas que sempre fizeram parte do cotidiano de uma das nações mais racistas do planeta. E bem, se a sequência inicial do primeiro episódio não conseguir te convencer do que eu acabei de dizer, basta ver a abertura da série. Depois disso, ninguém pode-se dizer enganado pelo tom.

Aquaman faz sexo com peixes?

Não bastasse fazer troça com o próprio Pacificador – e com o Vigilante, logo mais – a série faz questão de lançar citações aqui e acolá sobre as franquias mais consolidadas do DCU. Apesar disso, não creio que a integração desse arco no macro do universo vá além disso. “Peacemaker” parece ter uma trama sólida, que sabe bem para onde vai e não precisa do apoio dos irmãos maiores. Mérito de Gunn, que assina o roteiro e dirige quase a totalidade dos episódios.

Essa consistência, talvez seja o maior mérito apresentado nesses três episódios. Através dos gracejos reporta estar no mesmo universo que os gigantes, embora prefira lidar com o mundo pequeno da mente do seu protagonista.

E a relação entre as duas coisas parece ser mesmo relevante. O tom jocoso e a postura de macho alfa do Pacificador se mostram, já no segundo episódio como uma casca para uma criança traumatizada. Um dos perfeitos retratos da geração que cresceu com o mundo prometido a eles pelos seus privilégios, mas que viu as promessas ruindo -parcialemnte – diante de seus olhos.

Por outro lado, a série não se priva de mostrar outra esfera desse submundo neo-fascista. E o faz através do pai do protagonista. Um personagem que nos quadrinhos faz ecos nazistas e aqui na série é adaptado como um supremacista branco com a alcunha de “Dragão Branco”. Outro personagem quase desconhecido dos quadrinhos.

A ridicularização do opressor

Embora Gunn não tenha o tino de Taika Waititi para tratar de temas tão pesados, a série já se mostra, nesses três primeiros episódios, capaz de fazer algo louvável: Tirar sarro de quem está por cima.

Embora os personagens, em especial o protagonista e seu pai, passem todo o tepo de tela desfiando palavras de ofensa e ataques gratuitos à minorias – todas elas limadas pela nossa dublagem – é neles que a série coloca o seu sense de ridículo. Vemos o Pacificador, tão poderoso e vilanesco em “Esquadrão Suícida”, chorar sozinho na cama e hesitar diante de um alvo, com as mãos trêmulas. Mesmo que em outros momentos, o caminho de redenção que pretendem desenvolver pareça nítido.

Qual desses caminhos ganhará força e se isso será bem feito, os próximos episódios dirão.

“Peacemaker” terá um episódio por semana até completar a temporada com dez capítulos. Você pode acompanhar na HBO Max.