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Crítica – Army of the Dead: invasão em Las Vegas, 2021

Desde seu pequeno papel em Blade Runner 2049, é nítido que Dave Bautista está em busca de papéis que peçam mais do que fisicalidade. Não por menos, após uma introdução bem no estilo Zack Snyder de ser, Bautista é apresentado como uma pessoa comum, usando avental e óculos de alça. O maior mérito de “Army of the dead” se encontra em seu elenco, forte e carísmático, capaz de segurar nossa atenção e curiosidade a maior parte do tempo.

Em especial, Nora Arnezeder no papel de Coiote e Tig Notaro, que rouba a cena apesar das limitações que sua escalação tardia e a necessidade de filmar suas cenas à distãncia – inseridas usando CGI na pós – são um motivo mais do que suficiente para ver o longa. Infelizmente, há pouco mais do isso que se possa verdadeiramente elogiar. Talvez a ação, mas apenas quando está não é prejudicada pelo CGI. O orçamento, um dos maiores da história da Netflix, parece não ter sido o bastante e evidencia o que também aparece em outras áreas da produção, um conflito entre o comedimento e a ambição. Como é um filme de zumbi, vamos desmembrá-lo.

É nítido que, para o diretor, “Army of the Dead” é um projeto de reorientação, depois que o plano ambicioso para o universo DC evaporou completamente dos planos dos produtores. Aqui o cineasta sente-se livre das necessidades corporativas e se lança de braços abertos em seus próprios termos. Snyder faz sua própria fotografia, dirige e assina o roteiro. E cada uma dessas áreas merece ser discutida a parte. Nas imagens, os close-ups perpétuos e câmera lenta característica do diretor são mais comedidos, o que parece menos uma decisão criativa do que uma questão prática, na ausência de parceiros de longa data como Larry Fong.

Na direção, há altos e baixos. Cheio de ideias repetitivas e gags recorrentes, “Army of the Dead, se apega aos conceitos de zumbis dos anos 2000, porém dialogando com o momento atual e entregando um “gore fofo” na ação bem dirigida. Isso também se estende ao elenco, que eventualmente contorna o roteiro e abraça o ridículo, mirando o puro entretenimento. O problema é quando se propõe a mais do que deveria, por exemplo em uma cena de conflito no escuro, com os tiros fazendo as vezes da iluminação. Se não dá pra fazer, não deveria ser feito.

O roteiro é a parte que mais parece ter sofrido com o acúmulo de funções do diretor, e aqui o estilo consagrada se mostra mais do que em qualquer outro campo. É justo dizer que todo o texto aposta em uma diversão descompromissada a maior parte do tempo, mas estão aqui as referências religiosas, alguns supostos mistérios que pouco acrescentam à trama e as viradas capazes de se antecipar à quilometros. Dificil dizer se seu maior problema é o ritmo – os personagens levam quase uma hora para entrar em ação – ou o texto, repleto de facilitações e contradições narrativas, que visam nos forçar a torcer por personagens que insestem em tomar decisões idiotas.

Com ares de franquia, no fim não se pode atacar as pretensões que a produção tem. Com um final que serve de teaser para o futuro e cheio de perguntas sem respostas que podem gerar spin-offs, demonstra um bom faro de mercado. Na tentativa de ressuscitar (perdão pelo trocadilho) um gênero que o próprio Snyder reiniciou no começo dos anos 2000, o diretor segue a linha de outros antes dele, como Michael Bay, cultivando seu público e pregando para convertidos, não se importando com exageros imensos – e não digam que estou sendo chato, não fui eu que transformei um orgasmo em uma explosão.

 

Army of the dead: Invasão em Las Vegas, 2021
Título original: Army of the dead
Netflix
Direção ew roteiro: Zack Snyder
Elenco: Dave Bautista, Huma Qureshi, Tig Notaro,
Nora Arnezeder, Ella Purnell, Omari Hardwick