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Crítica – Doctor Who: Flux (2021)

Antes de qualquer coisa, quando falarmos sobre despedidas do elenco na franquia “Doctor Who“, por favor, sempre lembrem-se de dar o crédito do que a pandemia causou como alvoroço na vida de Jodie Whittaker. Mas não vamos dizer que isso é uma novidade. Posso dizer, com absoluta segurança que esta fase vai ser uma das mais divisoras entre os fãs pelos próximos anos.

Ao contrário do que a campanha contra a protagonista feminina possa propor- já parece uma década que isso aconteceu – o principal problema é a insistência de Chris Chibnall em explorar as origens da Doutora. Na última temporada, tudo já virou de cabeça pra baixo. Em uma tacada nos contaram que ela é de outro universo, foi adotada e era na verdade o Senhor do Tempo original.

Assim, o título dessa temporada parece fazer jus a tudo que está acontecendo de forma metalinguística na série. Temos hoje em “Doctor Who” uma enchente de conceitos, que precisam urgentemente se acomodar em uma corrente coerente.  E foi isso que tivemos?

O fim de tudo para a Doctor

Primeiramente, não. Embora esta temporada estivesse marcada para a despedida de Whittaker da série, os problemas gerados pela pandemia reduziram os episódios e garantiram três especiais no ano que vem.

E isso pode ser dito: A própria Doctor provou ser uma das melhores coisas em ‘Flux”. E temos aqui a melhor definição dessas versão do personagem até agora. É sempre um prazer acompanhar cada interprete encontrando sua versão e cravando a personalidade do Senhor do tempo. A Doutora de Whittaker é mais temperamental, assertiva e pró-ativa que qualquer outra versão da nova série. Embora, eu preciso dizer, no último episódio isso até passe da conta.

Muitos fãs vão torcer o nariz no fim dos episódios e eu não os culpo. Tivemos mais de uma década com várias versões do Doctor lidando com o tema do genocídio para que de uma só vez tenhamos esse ponto ignorado e banalizado nessa temporada. Bola fora, falo sobre isso logo mais.

Talvez isso seja ainda pior do que a estranheza de saber demais sobre a origem da personagem. Antes de sabermos tudo que descobrimos em “Flux”, o mistério da Doctor ainda tinha uma certa névoa. Nínguem perguntou de verdade sobre seu passado. E ninguém se empolgou de verdade em descobrir.

A trama

Desde de Liverpool até o espaço profundo, pela Guerra da Criméia e um planeta chamado Atropos que nem deveria existir, lutando contra antigos inimigos e novas criaturas além da nossa dimensão, a Doutora e seus companions enfrentarão uma corrida contra do tempo para descobrir um mistério que abrange todo o universo. Afinal, o que é o Fluxo?

Quando o primeiro episódio começou, essas coisas me instigaram. Um novo vilão surgiu, capaz de controlar – e talvez ser – o próprio tempo. Talvez você concorde comigo que isso é legal. Porém, o que a gente descobre com muito tempo nessa área que uma ideia ser legal não basta. Mesmo se tratando de “Doctor Who”, Rose Tyler não é querida pelo fã pela sua personagem ser legal, nem também a reviravolta de River Song marcou o público por ser legal. Definitivamente, essas coisas foram legais porque foram bem cosntruídas. Ponto.

Assim sendo, é perceptível que faltou certo polimento no roteiro desse ano, o que seria extremamente importante para uma temporada com tantas pretensões.

O fluxo

Ainda assim, essa temporada não é uma perda total. Isso por que temos ótimas adições de personagens secundários e uma trama que, mesmo perdida muitas vezes, consegue ser dinâmica o bastante. O cachorro alienígena Karvanista já pode ser considerado um dos melhores personagens da série, com o ator Craige Els realizando um trabalho maravilhoso por trás de sua fantasia.

Doctor Who

Mesmo que Mandip Gill tenha tido pouco o que fazer com o que o reoteiro ofereceu para Yas, a atriz tem um carisma maravilhoso e segura a onda. Enquanto isso, as adições de Vinder (Jacob Anderson) e Dan (John Bishop) trazem um prazeroso contraste de cores entre os companions quando estão juntos. – E nem são todos os que aparecem.

Não temos a nada a reclamar deles. A reclamação é mesmo o roteiro. Semana a semana, “Flux” intercalou promessas enormes a roteiros medianos. Prometeu-se muito. Ecoar a série clássica com um arco menor e contido, sem episódio procedurais, por exemplo. Ainda assim, dentre esses seis episódios, três soam desconectados.

Além disso, tem o grande desfecho que, como eu disse antes, destoa não apenas da construção dos últimos anos de uma mensagem para a série como um todo, mas da própria construção da Doutora de Whittaker – Mais alguém lembra do discurso desamarmentista da personagem lá no seu segundo episódio.

É um descuido que fala sobre a questão maior desta era de “Doctor Who” – muito disso parece um sarrabisco que precisa ser revisto. Agora é esperar, ver se o fluxo toma seu rumo. Só em 2022.

A série estará disponível em dezembro no GloboPlay

Doctor Who – Flux
2021
Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte

Roteiro: Chris Chibnall

Elenco: Jodie Whittaker, John Bishop, Mandip Gill, Jacob Anderson