Resenha | Invencível, de Robert Kirkman
Sei que vocês estão empolgados com a série animada de Invencível, mas vamos falar um pouco dos quadrinhos
Lembro-me bem que lá pelo fim dos anos 2000, o clima geral entre os grupos de quadrinhos era de um desânimo constante. Todos continuavamos acompanhando nossos gibis mensais , mas os desdobramentos da Guerra Civil na Marvel e a indefinição de futuro na DC Comics deixava sempre um sentimento morno na galera. Nesse contexto, e como acontece de tempos em tempos, todos começamos a migrar para outros títulos que fugiam ao padrão das duas editoras peso pesado. Daí encontramos “Invencível”.

Escrito pelo hoje já renomado escritor Robert Kirkman, também responsável pela série de quadrinhos “The Walking Dead”, Invincible # 1 foi publicado em 22 de janeiro de 2003. Quinze anos depois, em 14 de fevereiro de 2018, Invincible alcançou sua última edição de número # 144. Aqui no Brasil ela chegou pela primeira vez nas bancas em 2006 e foi solenemente ignorada. Mesmo para quem saiu na frente antes da séria animada deste ano colocar o personagem nas alturas, levou quase uma década para que grupos de fãs da história ganhassem corpo nas redes brasileiras.
Os motivos para esse ostracismo nunca ficou muito claro, há suposições. Talvez o publico brasileiro, já adaptado às tramas intrincadas que o mainstrain tentava emplacar há anos, estranharam a estranha combinação entre uma trama jovial e leve com os arroubos violentos do roteiro de Kirkman. Quem sabe mesmo o nome do autor, reconhecido por sua série de mortos vivos, não tivesse entrada entre a molecada que geria ver homens de colant bringando. Ou então é mais simples e ela estivesse à frente de seu tempo.
Naquela época, no Brasil especialmente, a figura mítica do “Nerd” estava saindo do estracismo e se firmando como a tribo urbana de maior poder e prestígio social. Saíram de cena os guris que liam gibis sozinhos no recreio e entravam em seu lugar os bombados de academia que discutiam se Jack Nicholson havia sido superado em sua performance por Heath Ledger. E aí que está, no prefácio de um dos volumes publicados aqui no Brasil, o editor Tom Brevoort canta a pedra: “Invencível mostra abertamente o amor do autor pelo gênero super-heróis, toda a sua cor, toda sua vibração e até mesmo suas tolices. É uma revista em quadrinhos que não tem vergonha de ser revista em quadrinhos”.
De fato, a narrativa de invencível acabou migrando para quadrinhos de renome da década seguinte, como provam títulos como “Miss Marvel” e “Super Sons”. Até mesmo no cinema, muito do que vemos aqui parece ter aberto as portas para que filmes como “Deadpool” pudessem dar outros passos, seguindo não apenas a narrativa mas a tentência de violência “cool”.
Lá fora, muito se comparou no texto ágil de Kirkman aos melhores momentos de Homem Aranha, comparação que levada a cabo, gerou um dos melhores crossovers dessa geração de quadrinhos.Era um quadrinho adulto, mas para adultos com saudades de der crianças. Por isto a tônica deste texto é para pedir que se acalmem em julgar “Invencível”como o sucessor de “The Boys”, por exemplo. Não desperdiçem o que nos resta de leveza, mesmo que coberto de sangue.