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Resenha – Sin City: A cidade do pecado, de Frank Miller

Há algumas obras sobre as quais parece não haver mais nada a ser dito. Por outro lado, o relançamento de clássicos permite a oportunidade, para o resenhista, de refletir sobre essas obras importantes. “Sin City” está sempre em disputa pelo título de obra máxima de Frank Miller, e por ser tão icônica, se encaixa nesse caso.

Lançado este ano pela Devir, num box reunindo todos os títulos já publicados, pode ser uma chance ao colecionador adquirir este volume. Na trama, acompanhamos Marv, um criminoso temido em “Sin City” que encontra paz e empatia numa jovem com divide uma noite de amor. A felicidade, porém, dura pouco, pois pela manhã ela é encontrada morta e Marv se torna o suspeito. O protagonista, no entanto, não se importa em ser perseguido, pois fará sua própria história de caça até encontrar o assassino.

Que a história se apoia nos clichês e estereótipos do cinema noir com uma dose cavalar da velha brutalidade de Frank Miller, todos já devem saber. E se essas pretensas facilitações funcionam é pelo carisma imenso expresso nos personagens e na narrativa cinematográfica que o roteiro imprima à arte.

Em “300”, Miller apresenta uma narrativa absolutamente cinematográfica, com splashpages e quadros em sequência que dão movimento próprio às páginas. Em Sin City, vemos esse processo se desenvolver.  E é belo de se ver. A cidade quadrada, obscura e cheia de becos se revela como que nos seduzindo a aceitar sua periculosidade. Não deixa de ser um eco.

Lançada em 1991 como uma história seriada em capítulos da revista Dark Horse Presents, Sin City caiu no gosto popular. Miller mesmo diz que planejava concluir a história em quarenta e oito páginas, mas que Marv não deixava. Outro eco. Sin City acabou com vários volumes, onde o autor tinha controle total da obra.

E desse controle veio toda a liberdade que ele poderia ter. Linguagem chula, violência gráfica e nudez. E sem o risco, já que Miller já era um autor respeitado e vendável depois dos sucessos de “Cavaleiro das Trevas” e sua fase elogiadíssima em Demolidor e em Elektra.

Lida hoje, quase 30 anos depois do lançamento, podia-se esperar quer a obra tivesse envelhecido mal. Miller passou por momentos de desgaste no meio dos quadrinhos e teve grandes brigas com outros artistas – como com Alan Moore. Além disso, a crítica hoje é muito mais engajada e politicamente correta, para quem os estereótipos de prostitutas e as longas páginas de Nancy dançando nua poderiam despertar críticas. Apesar disso, “Sin City” ainda dá pro gasto. Para continuarmos nessa metáfora dos ecos, é como se Marv ainda ecoasse. Não é um herói para nos espelharmos, mas é aquilo que era preciso para realizar uma vingança que ninguém mais poderia fazer.

Sin City – A cidade do pecado
Autor: Frank Miller
Editora Devir
Relançamento em 2020