Críticas

“Vermelho Monet” discute mercantilização da arte

Vermelho Monet” tem pretensões ás quais é preciso tentar compreender. Quando Halder Gomes foi reconhecido nacionalmente por seu “Cine Holliúdy” em 2012, tinha ares de uma sátira auto referenciada. Com o tempo, tornou-se cult, forçando sua entrada entre os críticos mais ressabiados. O impulso também foi sentido na carreira do diretor e roteirista, mas salvo a sequência deste mesmo filme, o diretor não emplacou grandes sucessos de crítica.

Filmes como “O Shaolin do Sertão” e “Os Parças” colaram no diretor uma pecha de fazedor de esquetes fáceis, tradicionais da televisão e sem o apuro estético do que seria um “cinema de verdade”. Tolice, já que todos estes filmes possuem méritos e demonstram um grande conhecimento da história do cinema e um cuidado com entregar exatamente aquilo que se propôs. Mas a pecha está dada e por isso, talvez, o novo longa se pretenda tanto ao falar de arte de uma forma carrega e exageradamente sofisticada.

O brilho do excesso também é arte

“Vermelho Monet” conta com a presença de nomes de peso no cinema brasileiro, como Chico Diaz e Maria Fernanda Cândido, que junto de Samantha Müller, em sua estreia nas telas apresenta uma história que se debruça sobre a natureza da arte sob três perspectivas distintas, de pessoas para quem a arte é mais do que sua própria vida.  Focando nestes três personagens: Diaz vive um pintor que não é reconhecido no mercado e que está, pouco a pouco, perdendo a sua visão e a capacidade de enxergar as cores, Müller por sua vez encarna uma atriz brasileira que parte para Portugal a fim de protagonizar um filme, e Cândido interpreta uma agenciadora de obras artísticas sem escrúpulos que se envolve romanticamente com a jovem enquanto tem um passado criminoso envolvendo as obras do personagem de Diaz.

Temos aqui, portanto, o artista, a musa e a mercadora, todos discutindo sobre o que seria de fato a arte e lutando para expressar suas visões particulares. E é fantástico como o filme brilha nos diálogos entre estes personagens. Mesmo os maiores críticos de Gomes sempre tiveram que engolir que o diretor escreve diálogos com uma qualidade imensa e isso não é diferente aqui.

Mudam-se os tons da imagens, mas o traço do artista segue sendo o mesmo, por assim dizer. No que diz respeito à estética, o filme mergulha nas cores para delinear seus cenários e composições. A fotografia de Carina Sanginitto é cativante e desempenha um papel crucial na narrativa, com enquadramentos inspirados em pinturas famosas, referenciadas em momentos estratégicos do filme, conferindo-lhe uma beleza única e marcante.

O contraste entre as cores alimenta a intensidade emocional dos personagens, como o vermelho e suas nuances, que são elementos constantes. O uso das cores é evidente na manipulação da luz, sombra e nas cenas em preto e branco vistas pelos olhos de Johannes, resultando em uma pintura fluida e visualmente impactante.

A quantidade de transições sofisticadas e construções semióticas dão ao filme um tom onírico que muitas vezes se sustente, mas por pouco não distrai o expectador. Embora belos e sofisticados, os momentos em que o filme para para expressar toda a sua capacidade cinematográfica arrisca ofuscar aquilo que nele há de melhor. Ninguém poderá dizer que Halder Gomes não é capaz de fazer aquele tal de “cinema de verdade”, e ainda há aqui a qualidade notável do diretor que vai além dessas trucagens visuais. O que ele faz é tão bom que ainda se sobressai.