Resenha – A ilha do Dr. Moreau (ou o Alto Evolucionário da Marvel)
As filmagens de “Guardiões da Galáxia, vol. 3“ já estão em andamento e sabemos que esta será o último filme da trilogia do diretor James Gunn.
No entanto, ainda existem outros atores e papéis que ainda não foram revelados, incluindo o vilão do filme. Mas uma entrevista no podcast Change My Mind com um insider pode ter revelado o que vamos ver nas telas. Ao podcast, Kc Walsh, editor-chefe do Geeks WorldWide, garante que o Alto Evolucionário será o vilão principal do novo ‘Guardiões da Galáxia’.
Nos quadrinhos da Marvel, o Alto Evolucionário é de fato um personagem que faz experiências em seres, fazendo isso com o propósito de criar um ser divino extremamente poderoso. Ele será, ainda, o criador do Rocket Raccoon.
É muito comum que, quando um leitor de quadrinhos abre uma revistinha, a história pareça um produto completo, fruto da mente de um roteirista e outros artistas. Isso é incorreto de muitas formas. Primeiramente, temos que considerar que mesmo as ideias que consideramos como originais, são feitas de uma profusão de referências insonscientes. O artista raramente é aquele que cria, mas aquele que captura as criações por aí e dá a elas forma.
Depois disso, existem referências óbvias, bastante diretas. E é sobre uma delas que quero falar hoje.
A ilha do Dr. Moreau
A princípio, o livro “A Ilha do Dr. Moreau” é um dos marcos fundadores do que hoje chamamos de ficção científica. Juntamente com Julio Verne, o autor H.G. Wells é considerado um dos pais do gênero.
Na trama, que se passa no século XIX, acompanhamos Prendick, único sobrevivente de um naufrágio, que é resgatado por um navio de carga com um capitão um tanto hostil. Ele então é abandonado em sua primeira parada: uma ilha misteriosa onde conhece o dr. Moreau, um cientista inglês exilado, famoso por realizar experiências que são verdadeiros shows de horrores. Moreau e seu assistente, Montgomery, cuidam de Prendick que pouco a pouco descobre experimentos secretos que acontecem na ilha.
O giro acontece quando o protagonista se dá conta que o cientista e seus empregados são os únicos humanos nessa ilha coberta de florestas. Porém, longe de ser um paraíso inabitado, na ilha vivem estranhas criaturas bestiais, mas com aparência quase humana e frutos das experiências de humanização de Moreau, que deixam Prendick apreensivo e despertam nele um enorme terror pelos segredos do dr. Moreau.
Dessa forma, Wells constrói uma interessante narrativa sobre os limites da ciência, os ideais que se escondem nos ideais imperalistas da Inglaterra e na moralidade do ser humano. Do mesmo modo, o escritor constrói uma visão muito crítica sobre os rituais religiosos e políticos de “humanização” de Moreau.
Moreau: O Cientista louco
O personagem Moreau não é o primeiro cientista louco da literatura. Antes disso, o público conheceu Victor Frankenstein e o Dr. Jeckyll. Por isso, não é estranho que algumas pessoas acabam se esquecendo do papel central de Wells para esse tropo. Na verdade, esquecemos muito facilmete a totalidade da obra do escritor. Porém, se eu disser o título de obras como “Guerra dos Mundos” e “A máquina do Tempo“, percebe-se o tamanho da sua influência.
Por isso, é muito interessante perceber que esse tipo de personagem segue se reinventando. Por exemplo, se antes de Moreau o cientista louco vivia no meio da aristocracia, aqui temos o importante elemento do isolamento. A ilha, distante da civilização, é a inovação mais importante.
O filme “Jurassic Park” é um exemplo- não o único – de produção pop de alto impacto na cultura que se apropriou desse conceito. Em uma introdução ao livro, na edição da Alfaguara, Braulio Tavares escreve que “A ilha do Dr. Moreau“ é uma mescla entre a ficção científica e o romance de aventura em lugares exóticos – formato influenciado pelo próprio Verne e outros livros de ação que circulavam, como A ilha de coral, de R. M. Ballentyne, e A ilha do tesouro, de R. L. Stevenson.
A distância e o isolamento tornam a história do cientista louco mais assustadora. Afinal, o que ele pode estar fazendo longe dos nossos olhos?
O Alto Evolucionário
Afinal, em 1966, o personagem Alto Evolucionário aparece em Thor #134, criado por Stan Lee e Jack Kirby. Do mesmo modo que Moreau, o Alto Evolucionário é um cientist louco. Assim como Moreau, ele trabalha melhorando animais e os tornando mais humano. Agora, com o uso da tecnologia genética no lugar cirurgias e enxertos de orgãos.
Eventualmente, o Alto Evolucionário se envolve em origens de heróis e vilões na editora. Sempre brincando de deus e, sempre, distante. Da mesma forma que Moreau se esconde em uma ilha, o Alto evolucionário cria todo um planeta para si: A contra-terra.
Muitas vezes, o leitor pode encontrar referências aos mesmos temas de Wells. O papel da ciência, a eugenia e a ética humana surgem aqui e acolá. Grandes sagas e aventuras – para o bem e para o mal – tem sua participação.
Por isso eu indico a leitura do livro que gerou tudo isso, a você nerd. Leia os clássicos.