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Resenha | Umbrella Academy, de Gerard Way e Gabriel Bá

Visto que a segunda temporada da adaptação estrou na netflix repetindo o sucesso da primeira temporada – e com substancial melhora no ritmo e no desenvolvimento dos personagens, mas isso é papo pra outro momento – creio que vale a pena recuperar por que “Umbrella Academy” se tornou um novo clássico dos quadrinhos e levou um Eisner para casa, consolidando de vez o talento de Gabriel Bá na gringa.

Parece que foi ontem que o mercado de quadrinhos estava saturado de mais uma tentativa de revitalizar os quadrinhos. A Marvel estava tentando surfar ainda no sucesso de Guerra Civil e a DC encerrava os arco dos 52, ambas dando novas caras aos seus superheróis, tentando ser sérios numa medida e divertidos para iniciar uma ofensiva poderosa nos cinemas. Grant Morrison estava escrevendo seu livro “da vida” sobre a importância o o gênese das histórias de super-heróis e se você ler a primeira parte da introdução dessa obra, vai encontrar ali os germes de Umbrella Academy. Para quem duvida, transcrevo um trecho: “Um dia, quando a Terra for emboscada no hiperespaço por 50 Terras Gêmeas Malévolas, esse poderio megadestrutivo (dos submarinos nucleares na costa da escócia), irônicamente, pode ser nossa salvação – Mas até lá, parece uma estravagância.”

Antes da publicação de Umbrella Academy, poucas pessoas sabiam que Gerard Way, conhecido vocalista da banda My Chemical Romance havia sido estagiário na DC Comics, e menos pessoas sabiam que ele tinha, nesse período, trabalhado com Grant Morrison. Ninguém poderia imaginar que ele levaria a insanidade de Morrison a um nível nunca antes visto. Se é possível um paralelo é com invisíveis, mas apenas da profusão de referências unidas por elementos absurdos.

Na trama de Umbrella, partimos de um inexplicável evento, no qual quarenta e três crianças foram geradas espontaneamente por mulheres que não apresentavam sinais de gravidez. Sete delas são adotadas por Sir. Reginald Hargreeves, conhecido como “O Monóculo”, um alienígena mascarado de empresário, que pretende treina-las para salvar o mundo de ameças desconhecidas. Após a notícia da morte de Hargreeves, o grupo, já crescido, se reúne num time familiar disfuncional para evitar uma catástrofe global.

O grande mérito aqui é perceber a natureza absurda das histórias de super-heróis e então levá-las ao limite. Se uma geração anterior havia usado este absurdo para chocar com clássicas histórias de como um mundo de quadrinhos poderia ser doentio e macabro, Umbrella Academy mostra que o absurdo pode tornar o doentio divertido. Trata-se de um Zeitgeist, já que Mark Millar faria o mesmo no mesmo ano. Mas tenhamos que dar os méritos, Umbrella tem algo que o Millarverso não possui: a arte de Bá.

Dinâmica e completamente comprometida com a obra, a arte do brasileiro não apenas capta, mas soma imensamente ao projeto, levando um roteiro que passa depressa que com gosto de quero mais ao patamar de uma obra essencial. Para quem viu apenas a série da Netflix, a recomendação é correr imediatamente para ler o quadrinho. Afinal, nunca se sabe quando Terras Gêmeas Malévolas podem atacar a Terra no Hiperespaço.

 

Umbrella Academy
Gerard Way e Gabriel Bá
Editora Devir
2018